sábado, 2 de julho de 2016

Passado 0.3

Não sei o que é inferno em mim: se o que me arde é esta ausência de ti, se é saber que já houve a tua presença. Que deus me quer assim? Sem saber em que tempo viver e chorar? Quem é esse deus que te quis a ti, para poder chamá-lo pelo nome e dirigir-lhe estas palavras: perguntar-lhe o porquê de tudo isto?
Contaste-me que, durante muito tempo, querias ser astronauta. Ver de perto como brilham as estrelas; pôr os pés na Lua porque, com eles na Terra, andam todos sempre e sonhar também é preciso.
No altar sussurraste-me que as estrelas tinha-las descoberto de perto ao navegar nos meus olhos, e que encontraste-te na Lua quando abriste a porta de casa e estava lá eu. Que agora, se pudesses aspirar a mais, seria ir em busca de mais formas de nós comigo. "Ter uma família contigo será como chegarmos a Marte e lá criar uma nova vida", disseste-me, agarrando-me na mão com força e de repente puxando-me para perto de ti, como quem desejasse ardendemente essa viagem assim. Creio que, assim, na verdade, conseguiríamos o Universo inteiro.
Não pensei que esta nova família fosse assim: que em vez de aumentar, diminuísse. Que Marte se consumisse tão ferozmente em chamas. Que guerra é esta em que agora me encontro? Que paz é essa em que estás?
É como se um buraco negro nos tivesse sugado a meio caminho.

autora: Maria Ramos

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