sábado, 22 de outubro de 2016

Futuro 0.4

O ser humano é um ser obrigado a vergar-se perante a adaptação, sendo tanto servo como nobre no seu reino: tudo dependerá da sorte e também do esforço. De momento, a adaptação exigi-me que seja uma bebé capaz de dar passos de adulta. Terei de caminhar sem nunca o ter feito, sem saber ao certo como coloco e levanto os pés do chão de forma controlada e continuada. Terei de o fazer observando e repetindo todas as etapas vezes e vezes sem conta. Assim sou agora e sou-o, porém, ansiando pelo momento em que serei adulta brincando despreocupadamente como uma criança - podendo fazer e ser de tudo um pouco sem quase pensar no que vem a seguir.
O futuro - aprendi - não tem de aparentar-se lógico (nem sê-lo de facto). Nem sempre se começa por gatinhar para um dia mais tarde andar: por vezes começa-se logo a andar, e até há quem comece, desde logo, a nadar. Tudo dependerá de onde e como se nascer, de onde e como se crescer. O futuro não dá a cara de sequencial, não se antevê certo, e nem sempre cresce suave e sem se notar: é em tudo improvável. Um improvável que, contudo, não é impossível.

autora: Maria Ramos

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